quarta-feira, 13 de julho de 2011

Idem

Ele só queria paz. Aquele peso todo, de onde tinha vindo? Ela tinha virado aquela pessoa que chora gritando, sabe aquele choro soluçado? Era a última imagem que ele tinha dela. A leveza tinha virado grito histérico, pedido, lágrima. A leveza tinha virado humilhação. Até o sexo era choro: ela compensava a insegurança no sexo, que era agora só um ato doído pros dois. Ela só sabia chover, e ele queria sol. Me diz, o que eu fiz?, ela perguntava naquele temporal de lágrimas e ele não sabia o que dizer, eu só quero sol, como se explica isso? Não sabia dizer, então beijava-lhe a face, cada beijo um aceno de adeus. Só não sabia dizer porque queria ir. Ela esgotada de tanta lágrima, olhava no espelho ele, uma escova de cabelo na mão, e uma derrota tão evidente que doía mais. Eu tentei fazer você me amar. Tentei todos os dias, quase te forcei, quase te inundei com a minha presença, quase te sufoquei de tanto amor. Eu tentei te conduzir sempre, ela dizia, porque sabia até onde a gente poderia ir. Ele olhava, mas quem disse que era isso que eu queria?, eu tinha me apaixonado exatamente pelo oposto, pela calma, pela ausência, pela pouca pressa. Eu me apaixonei porque você me esquecia, porque me fazia rir e não chorar. Lembra quando a gente não chorava? Lembra de quando você chegava de madrugada feliz e só me beijava e nada mais tinha importância, nem aquele teu cheiro de homem no pescoço? Eu te amava por isso, porque era simples, porque a gente só queria saber de ser feliz e de dançar até esquecer o nome, porque a gente cantava de manhã quando acordava, porque as nossas mãos se encontravam inconscientemente dormindo. Agora você me abraça tanto que eu nem respiro e acordo sufocado. Eu te amei pelo oposto do que você é, Diba. Eu te amei, mas não te amo mais. Amava a outra, que é leve, que não chora gritando, que não me sufoca dormindo.

Ela morreu, ela chorou de novo, e foi no dia em que você chegou.

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