segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ainda espero resposta

Eu não deveria te escrever esse email, eu nem estou tão bêbado, mas queria te dizer que não consegui dormir direito essa noite, que todos esses bares novos me fazem lembrar do nosso bar, que todas as meninas daqui usam franja e eu me lembro de você passando a mão no cabelo a cada 2 minutos pra ajeitar a sua, mas que elas não têm nem de perto seu senso de humor, só o cabelo liso escorrido na cara. Eu não sei qual é o objetivo desse email, eu só bebi três taças de um vinho barato do bar, mas precisava te dizer que pode ser que você seja o motivo da minha insônia, e eu não posso confessar isso a mais ninguém que não seja você. Eu sei que essas linhas não fazem qualquer sentido agora, eu sei que você escolheu o outro - bem escolhido por sinal - mas eu precisava te dizer que voltei do bar e reli toda a nossa história, busquei teu nome na minha caixa de entrada e tava tudo lá, tudo que eu custei tanto a entender. Eu sei que você deve ter apagado todo esse lixo do seu email, que é pessoa ocupada e não tem tanto espaço na caixa, e que ele também é ciumento e não ia gostar de achar nada disso nas suas coisas, mas eu precisava te escrever só pra contar que eu queria ter visto tudo isso a tempo, que eu passei a noite mal dormida fantasiando nosso romance que nunca aconteceu.

Eu sei que não deveria te contar nada disso, mas é que eu sou mesmo egoísta, tenho mesmo medo de viver certas coisas e que, agora que elas não são mais plausíveis, elas não me assustam tanto. Me deu vontade de compartilhar isso com você, de dizer que você estava certa, que ela era mesmo menos interessante, que eu sou mesmo um mulherengo inveterado, que morro de medo do seu mundo de gente grande, que não tenho ambição, embora tenha tido coragem de me demitir na semana passada e de viajar sozinho por minha conta. Eu sei que agora é tarde pra dizer que me fizeram uma ótima proposta de trabalho e eu já penso finalmente em me mudar, que me livrei daquela ex, que não passo mais as tardes buscando outras na minha agenda do celular, de que eu tenho certeza de um monte de coisa.  Eu nem sei realmente se eu deveria te escrever todas essas coisas agora, nem se eu vou ter coragem de apertar o botão de enviar, ou se essas palavras vão ficar pra sempre nos meus rascunhos, igual a nós dois, que nos tornamos um amor só de rascunhos. Eu nem estou tão bêbado assim, foram só três taças de um vinho barato naquele bar que me lembrou o nosso e onde as meninas todas eram sérias mas tinham franjas caindo na cara.

Eu nem sei porque eu escrevi isso afinal, foi só uma insônia besta, uma vontade que já passou. Isso tudo porque eu coloquei teu nome no google antes de dormir e achei um texto teu. Eu li. Ainda dá tempo?

sábado, 23 de julho de 2011

Eu vou te deletar, te excluir do meu orkut

Ela é dele, pelo menos daquela bolinha laranja que insiste e insiste e insiste, piscando o tempo todo no email dela. Ela é dele quase 24h por dia, ou 8h, que é amor só de horário comercial e dia útil, sem fim de semana. Ela é dele nos post dramáticos, naquelas músicas melancólicas que recomenda do youtube, nos seus nicks bregas que ele curte e nas rapidinhas de 140 caracteres, o amor dela virou coisa pouca de 140 caracteres. Ela é dele nos emails que ela repassa para as amigas, que acompanham todo aquele lenga-lenga, que se diz bate-papo e é lero-lero, e dão palpite com a resposta que deveria ser a mais sensata, mas que ela nunca dá. Ela é dele naquelas orgias verborrágicas de indiretas e entrelinhas, naquelas letras bestas que eles trocam só por trocar, pra manter aquele contato irreal, surreal,  virtual. Ela é dele mesmo ausente, mesmo ocupada, mesmo invisível, mesmo bloqueada. Ela é dele mesmo quando a conexão cai.

Era. Até que um dia ele mandou uma nota oficial por email. Estava em um relacionamento sério na vida real.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Acabou chorare no meio do mundo

(Ela riu, ele riu de volta, aí o céu abriu, a lua ficou mais cheia, o olho brilhou. De novo. Ela riu, ele fez que ia falar alguma coisa, mas não importava o que ele falasse, o céu já tinha aberto, a lua já estava no seu auge e o olho era só brilho. Ele então chegou bem pertinho dela, a respiração dos dois se falando entre eles, e era só silêncio fora e só barulho dentro, que nada precisou ser dito. Ela só riu, ele segurou no queixo, olhou profundamente dentro daqueles olhos pretos enormes e riu de volta, a boca já começando a abrir, uma boca que só fechou quando o dia acabou e a lua cheia deu lugar ao sol)

Eu nunca mais vou sentir isso, ela se questionou, nunca mais brilho fosforescente, lua imensa, coração disparado. Nunca mais primeiro beijo, primeiro frio na espinha, primeira troca de suor. Nunca mais aquele cansaço bom, aquela paz de espírito, nunca mais aquele pouco medo de tudo, da nenhuma preocupação que não fosse aquele momento, aquela primeira vez de quando duas almas pensam que se encontram de tal maneira que até o zombido da abelha faz sentido. Nunca mais aquela cosquinha, aquele risinho no canto da boca, nunca mais aquela espera infinita dos dois segundos que antecedem a primeira vez. Nunca mais, ela se repetiu e repetiu e repetiu, naqueles milésimos de segundos desde que ele olhou ansioso nos olhos dela e ela lembrou da primeira vez que ele riu de volta. Ele se impacientava, esperando aquela resposta, e então Maria?.

Ela riu, ele riu de volta, o céu abriu de novo, a lua ficou mais cheia, o olho brilhou: aceito.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Idem

Ele só queria paz. Aquele peso todo, de onde tinha vindo? Ela tinha virado aquela pessoa que chora gritando, sabe aquele choro soluçado? Era a última imagem que ele tinha dela. A leveza tinha virado grito histérico, pedido, lágrima. A leveza tinha virado humilhação. Até o sexo era choro: ela compensava a insegurança no sexo, que era agora só um ato doído pros dois. Ela só sabia chover, e ele queria sol. Me diz, o que eu fiz?, ela perguntava naquele temporal de lágrimas e ele não sabia o que dizer, eu só quero sol, como se explica isso? Não sabia dizer, então beijava-lhe a face, cada beijo um aceno de adeus. Só não sabia dizer porque queria ir. Ela esgotada de tanta lágrima, olhava no espelho ele, uma escova de cabelo na mão, e uma derrota tão evidente que doía mais. Eu tentei fazer você me amar. Tentei todos os dias, quase te forcei, quase te inundei com a minha presença, quase te sufoquei de tanto amor. Eu tentei te conduzir sempre, ela dizia, porque sabia até onde a gente poderia ir. Ele olhava, mas quem disse que era isso que eu queria?, eu tinha me apaixonado exatamente pelo oposto, pela calma, pela ausência, pela pouca pressa. Eu me apaixonei porque você me esquecia, porque me fazia rir e não chorar. Lembra quando a gente não chorava? Lembra de quando você chegava de madrugada feliz e só me beijava e nada mais tinha importância, nem aquele teu cheiro de homem no pescoço? Eu te amava por isso, porque era simples, porque a gente só queria saber de ser feliz e de dançar até esquecer o nome, porque a gente cantava de manhã quando acordava, porque as nossas mãos se encontravam inconscientemente dormindo. Agora você me abraça tanto que eu nem respiro e acordo sufocado. Eu te amei pelo oposto do que você é, Diba. Eu te amei, mas não te amo mais. Amava a outra, que é leve, que não chora gritando, que não me sufoca dormindo.

Ela morreu, ela chorou de novo, e foi no dia em que você chegou.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Maria

Diba, ele disse. Ela quis saber, por que Diba? Ele explicou e ela fingiu que entendeu, mas gostou mesmo sem entender. Era o novo nome dela, que agora era só dele. E ele só dela, o menino dela. Riu, ele percebeu, e as covinhas, são só minhas as covinhas também? Ela disse que sim, covinhas, sorrisos, cabelo caindo no olho, tatuagem na nuca, é tudo só seu, pode usar quanto quiser. Ele riu, aqueles olhos verdes fracos, e ela entendeu no olhar que pesava isso de ser só do outro. Sentiu de leve, bem de leve, o peso que não sentia há quanto tempo, dois, três, quatro anos? Ou mais. Riu, riso amarelo já, e repetiu, virei Diba. Virei dele, virei de alguém. Virei a pessoa que faz outra pessoa chorar, rir, acordar, dormir. Virei o motivo do grito quando a paixão vira raiva, virei o telefone desligado na cara, virei o gosto repetido de cigarro na boca, virei a lágrima no canto do olho, o sexo bêbado burocrático. Virei o tédio, a prisão, o ciúme idiota, e qual não é?, virei a dor de cabeça, o beijo na testa, o abraço triste de quando o calor não existe mais e vai se esfriando tudo. Virei a ressaca, a segunda-feira, a neosaldina. A cerveja quente, o resto do chope, é isso, eu sou o chope que fica no resto da taça, pensou, que a gente bebe só por obrigação.

Diba, ele disse, apaga a luz?
Não me chama assim, ela respondeu, que meu nome é Maria.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

dessa enorme euforia

Que merda esse coração disparado, essa angústia de não saber o que é isso que vem e te deixa assim eufórico, no meio do escritório, arrasada no meio do almoço, que te faz chorar na depilação e não é de dor, ou é. Que merda esse querer idiota, que te faz adolescente, que te deixa com ataque de pânico, sem respirar, quando ele resolve fazer perguntas idiotas que ele sabe a resposta e você sabe que ele sabe. Que merda essa desconcentração na hora errada, que te faz levar esporro do chefe, porque o trabalho tá atrasado, porque a vida tá toda atrasada, porque não era mais idade pra sentir essas coisas, que isso é coisa de criança que nunca amou e você já amou tanto que não deveria mais se sobressaltar. Que merda essa vontade que não passa nem depois de tudo dar errado, um desencaixe físico e emocional óbvio, uma falta do que saber fazer, uma falta do que saber dizer, que te faz falar coisas desconexas e sem sentido, frases que não existem, palavras pela metade. Que merda esse suor nesse frio de 10 graus, esse descompasso entre o inverno lá fora e o verão aqui dentro, entre a racionalidade que te manda ir embora e o coração que insiste num ficar desesperado, mesmo sem motivo algum.

Essa merda tem nome, me dizem, é paixão. E dura só seis meses.
Mentira, eu digo, que eu morro antes.

Todo dia ela faz tudo sempre igual

Todo dia ele olhava. Ela com o livro no mesmo café, tomando o mesmo espresso, esperando a mesma garçonete, que ela conhecia já de nome. O mesmo livro sempre, ele reparou na capa, não era um livro grosso, porque ela demorava tanto pra terminar? Todo dia ele esperava a hora do café, todo dia ele se aproximava, e todo dia desistia de perguntar seu nome, pra que nomes, pra que perguntas? Ele tentava mudar o caminho um dia que fosse, mas sabia que ela estaria lá e saber da presença dela sem a presença dele doía, como se ela fosse esbarrar com o amor da vida dela se ele não estivesse ali de plantão, como se estando ali ele pudesse atrasar o destino, brincar com o acaso, impedir o tal esbarrão inevitável com o príncipe encantado dela, que, claro não era ele. Por isso ele continuava indo todos os dias àquele mesmo café, onde ela tomava o mesmo espresso, esperava a mesma garçonete, que ela (e agora ele) conhecia já de nome. Esperava ela ler sempre o mesmo livro, fino, mas o mesmo, e desistia de perguntar o nome dela. Ela nunca olhava pros lados, no máximo procurava alguma coisa no celular, respondia uma mensagem ou um email, e voltava praquele livro fino e infinito que não acabava nunca. Ele dava alguns passos, imaginava uma abordagem qualquer, casual de preferência, algo que a fizesse rir e perceber a presença dele, ali, todos os dias, no mesmo café que ela. Mas voltava, desistia, achava perda de tempo, todos os dias uma desculpa qualquer, ela não vai se interessar, quem sabe não é tão solitária quanto parece ser, quem sabe é casada, tem filhos, cachorros e um casa grande, com um monte de amigos. Quem sabe ela não precisa dele tanto assim quanto ele pensava, quem sabe ela seja muito mais segura do que parece por trás daqueles óculos e daquele livro fino, infinito.

Um dia, o livro chegou ao fim. Ele viu uma lágrima. Achou que era o pior momento de falar o que tanto tinha planejado falar. E foi embora. E ela nunca mais voltou ao café onde tomava o mesmo espresso todos os dias, esperando a mesma garçonete todos os dias, que ela conhecia já de nome.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Resposta

Se amor, morrem os dois. Abraçados.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Catarse

Comecei a ler um livro que me lembrou de você, daquela sua mania chata de não ler autores novos, porque não tinha lido tudo de Tolstói ou Dostoiévski. Aí me lembrei daquele livro que você mandou trazer de não sei onde, com a dedicatória que achei outro dia e me fez chorar, embora fosse feliz e falasse de uma coisa que acho que não acredito mais, de fins e recomeços e da roleta russa que é voltar a acreditar no amor. Desculpa roubar essa sua frase, mas é que eu acho lindo e prolixo tudo que você escreve, até nas informalidades você é formal, apesar de todo aquele teu fogo apaixonante, de toda a tua pressa, sempre tem um "por favor" antes de se dirigir a alguém, mesmo que seja o frentista do posto de gasolina; por favor, obrigado e desculpas, você nunca teve medo de pedir desculpas, nem quando achava que estava certo, e quase sempre você achava, mas sempre se desculpava talvez por educação ou pra alcalmar a minha insegurança. A verdade é que eu só não te desculpei daquela vez, eu juro mesmo que eu tentei, mas eu sabia que nunca mais poderia te amar do jeito que eu sonhava, daquele jeito idealizado de melhor amigo, daquele jeito cúmplice de se olhar e se achar no outro. Depois daquela vez eu não podia mais te amar assim, então não havia o que desculpar, porque o você que eu queria tinha morrido de vez, só sobrou aquele amor que está aí até hoje, que se manifesta nas pessoas que eu amo pra reencontrar você, aquele amor que me arranca lágrimas no meio do almoço, lendo um livro que não é de Dostoiévski, mas que me faz lembrar de você.

Morreu, o nosso amor morreu

Enquanto todo mundo chamava ele de covarde, ela defendia: é a vida, depois passa, ele está mesmo numa fase esquisita. Ela olhava pra dentro e sabia que se enganava, mas insistia na ladainha de que tudo ia passar, que ele voltaria atrás, que ele se daria conta da mulher maravilhosa que iria perder, que tudo seria resolvido logo logo. Ele olhava cada vez menos pra ela, mesmo quando olhava, só sabia fazer aquela cara de não te amo mais que ela tanto odiava, aquele pedido de desculpas estampado na testa, eu desisto, eu desisto, não quero mais a gente. Ela olhava pra fora e era tudo muito claro, sabia que em algum momento ele deixaria de ser tão pouco homem, que um dia ele assumiria tudo, que não queria mais assumir nada, que se assustava com tantas coisas em comum, que se pelava de medo daquela certeza dela, que não sabia nada de futuro, nem de certezas, que era mesmo hora de ir. Ela sabia de tudo e esperava que estivesse errada, mesmo sabendo que nunca errava nessas horas, que mulher nenhuma erra nessas horas, o que a maioria faz é fingir que nem ela fingia, fingir que era compreensiva, fingir-se bem resolvida, indiferente até. Mas ele, ah, ele não fingia, quase esfregava a outra ou outras na cara dela, e era cada vez mais óbvio aquela escolha covarde, sim, covarde, de querer sempre a pessoa errada, com medo da felicidade óbvia. E um dia ela soube que era tarde, que ele era mesmo covarde demais, todo homem tem alguma coisa de covarde demais, e que seria ela mais uma vez quem teria que decidir pelos dois, ela que teria que pedir a morte deles, quase um suicídio, porque ele não teria a coragem necessária para apertar o gatilho.

E foi lá e matou. Ficou um restinho de sangue, mas ela saberia como limpar, novamente.