domingo, 25 de abril de 2010

Dei um aperto de saudade no meu tamborim

Ela olhava o nascer do sol sobre Barcelona, e, ao som de Teresa Cristina, só pensava nos sambas da vida, de preferência nos que tinha caldinho de feijão. Lembrou das amigas, todas também com a vida totalmente transformada, e chorou de saudade de um tempo bom demais pra ter acabado tão depressa. Ou que, por isso mesmo, não poderia ter durado mais. Sentiu uma saudade boa e triste, das raras. E esqueceu Barceloneta, Sagrada Família, Raval, Ramblas. Naquele minuto ela queria estar de frente para a Baía de Guanabara, no restaurante de domingo pós ressaca, com camarão e a melhor vista do planeta.

Cada música lembrava uma pessoa querida, e ela deixou as lágrimas caírem, uma pra cada música, uma pra cada saudade. Não que a saudade doa, ela tentou explicar. Era como um amor que dói em paz, como já cantava Vinícius. Saudade eles não entendiam, e nunca iam entender, ela pensou. Era uma vontade de viver o que já se tinha vivido, era uma vontade de voltar no tempo e passar aquela noite de novo. Mas depois voltar.

Ela tinha saudade, às vezes de uma maneira forte até demais, mas tinha vontade de estar ali. Era uma lembrança boa, não tinha nada de triste. Ela voltou a ouvir Teresa Cristina, voltou a pensar no samba com feijoada. E agradeceu a Deus pelas oportunidades de viver de forma tão intensa coisas tão felizes. Não, eles não entenderiam.