terça-feira, 7 de julho de 2009

Sempre o último a saber

Ela conhecia os gestos, de quando era verdade ou era mentira o que ele dizia. Sabia quando a blusa era nova e ele nunca tinha usado antes. Sabia até das manchas nas camisetas antigas. O que ele gostava de comer vendo o jogo de futebol, que dia de verdade ele tinha nascido, os bares que ele gostava de ir depois do trabalho. Sabia o humor dele quando acordava, do que gostava de fazer antes mesmo de escovar os dentes. Conhecia bem as variações de humor e sabia o que fazer em cada uma delas. Conhecia seus horários, a rotina do trabalho. Conhecia bem seus amigos, suas brincadeiras e apelidos, sabia quem tava lá pra sempre e quem deveria ser de passagem.

Sabia do seu passado, das anteriores, das que marcaram, das que não disseram nada. Sabia a cara que ele fazia quando não tinha o que dizer, de como mudava de assunto, de como ele fazia para evitar certos temas. Sabia do lhe afligia, da saudade desmedida de quem tinha ido, da música que lembrava a infância, do filme que ele não cansava de ver. Sabia quando era querida e quando a presença dela sobrava. Sabia onde encontrá-lo, em que hora ligar, em que dia sumir. Sabia onde ele estava, mesmo sem saber.

Sabia que não era dele e nem ele dela. Sabia que existia um limite, que ora ele andaria um pouco para frente, mas logo depois teria que recuar. Sabia de tudo que não seria. Sabia que não ganharia presentes, nem cartas, nem flores, nem surpresas. Sabia que ele nunca estaria no aeroporto, que nunca iria na casa de seus pais, que nunca mandaria uma mensagem porque havia pensando nela no meio da tarde. Sabia até onde poderia ir. E sabia que sempre saberia mais dele que ele dela. E um dia, sabendo de tanta coisa, ela soube a hora de ir. E foi.