quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

É como se o amor doesse em paz

Quando chegou, no inverno e na neve, ela só sentia saudade. Da praia, da samba, do suor, do flanelinha, do camelô, do trocador. Sentia saudade do pior, também. Mas sentia, acima de tudo, saudade da gente. Até que conheceu nova gente, que aos poucos, ou 'poco a poco', foi tratando de amenizar a dor. E aí ficou mesmo só a saudade. Mas "sem dor?", perguntavam. Ela explicava que não era nada disso que eles conheciam. Era uma coisa nossa, que mais ninguém sabia sentir. "Era como se o amor doesse em paz", se apoderou das palavras do poeta pra tentar explicar. "E pode o amor doer em paz?", questionaram outra vez. Ela não sabia responder.

E depois, quando voltou, também no inverno, foi tanta chuva que virou água de dentro pra fora, e ela sentiu outra vez aquela coisa doída. Saudade do parque, do rock, do ventinho frio, do chinês, da fila da boate de madrugada. Sentia saudade do pior, também. Mas, acima de tudo, sentia saudade da nova gente. E perguntaram, do outro lado do oceano, "saudade, mas já?". Parece que a gente nasceu pra sentir saudade. Pode ser que a exclusividade da palavra tenha mesmo um motivo.