sexta-feira, 8 de julho de 2011

Todo dia ela faz tudo sempre igual

Todo dia ele olhava. Ela com o livro no mesmo café, tomando o mesmo espresso, esperando a mesma garçonete, que ela conhecia já de nome. O mesmo livro sempre, ele reparou na capa, não era um livro grosso, porque ela demorava tanto pra terminar? Todo dia ele esperava a hora do café, todo dia ele se aproximava, e todo dia desistia de perguntar seu nome, pra que nomes, pra que perguntas? Ele tentava mudar o caminho um dia que fosse, mas sabia que ela estaria lá e saber da presença dela sem a presença dele doía, como se ela fosse esbarrar com o amor da vida dela se ele não estivesse ali de plantão, como se estando ali ele pudesse atrasar o destino, brincar com o acaso, impedir o tal esbarrão inevitável com o príncipe encantado dela, que, claro não era ele. Por isso ele continuava indo todos os dias àquele mesmo café, onde ela tomava o mesmo espresso, esperava a mesma garçonete, que ela (e agora ele) conhecia já de nome. Esperava ela ler sempre o mesmo livro, fino, mas o mesmo, e desistia de perguntar o nome dela. Ela nunca olhava pros lados, no máximo procurava alguma coisa no celular, respondia uma mensagem ou um email, e voltava praquele livro fino e infinito que não acabava nunca. Ele dava alguns passos, imaginava uma abordagem qualquer, casual de preferência, algo que a fizesse rir e perceber a presença dele, ali, todos os dias, no mesmo café que ela. Mas voltava, desistia, achava perda de tempo, todos os dias uma desculpa qualquer, ela não vai se interessar, quem sabe não é tão solitária quanto parece ser, quem sabe é casada, tem filhos, cachorros e um casa grande, com um monte de amigos. Quem sabe ela não precisa dele tanto assim quanto ele pensava, quem sabe ela seja muito mais segura do que parece por trás daqueles óculos e daquele livro fino, infinito.

Um dia, o livro chegou ao fim. Ele viu uma lágrima. Achou que era o pior momento de falar o que tanto tinha planejado falar. E foi embora. E ela nunca mais voltou ao café onde tomava o mesmo espresso todos os dias, esperando a mesma garçonete todos os dias, que ela conhecia já de nome.

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