quarta-feira, 21 de março de 2012

Por onde for quero ser seu par

Você me olha no olho e diz: você é mesmo muito bonita. Eu escancaro felicidade, tentando inutilmente disfarçar um pouco o sorriso gigante que aumenta ainda mais esse buraco na minha bochecha que você tanto adora. Aí, felicidade escancarada, você olha mais uma vez e diz: muito bonita. Não sei responder, como se responde reciprocidade? Te abraço, te aperto, te olho tentando dizer que não há nada a se dizer quando já se está tudo tão dito. Aí, por não saber o que dizer eu passo a mão no seu cabelo, que eu possivelmente gosto mais que você, olho tua sobrancelha fina e tua boca grande, iguais as minhas, penso, enquanto me dou conta que gosto de tudo de um jeito tão meu, que não sei como consegui viver tanto tempo sem. Você percebe, acho, a cara de felicidade escancarada e ri, orgulhoso. Eu só queria estar onde estou. E esse lugar, hoje, poderia ser qualquer um, desde que você estivesse também.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mudaram as estações, nada mudou

Seis meses depois ela bateu na minha porta com o mesmo vestido, mas sem a maquiagem se desfazendo no canto do olho, óculos de grau, sacola de compras na mão. "É pra janta", ela disse, enquanto ia tirando do saco plástico o arroz, o presunto, o pão francês - meio comido já. "É mania de criança, ia mastigando o pão quentinho a caminho de casa", ela riu e a covinha apareceu.

Me apaixonei de novo, era vida real.

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Eu até poderia poetizar e dizer que é de nervoso que ele morde o lábio, mas é só quando o bigode incomoda. Ou talvez, uma vez ou outra, por impaciência. E quando abriu a porta aquele dia, seis meses depois, ele mordeu. Será que demorei demais? Mas logo depois ele riu, aquele sorriso aberto, e elogiou o vestido: tá colorida - será que ele lembrou?. Me abraçou por trás enquanto eu ia tirando tudo da sacola, me explicando, sei lá por que, falando coisas sem sentido, lembrando da infância. Ele riu de novo, dessa vez aquele riso de bobo, que eu adoro.

Me apaixonei de novo, era vida real.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ai de mim que sou romântica

Eu não digo que é medo. É só uma angústia desesperada dessa felicidade acabar, dessa paixão acabar, da vida toda acabar porque, de repente, você não me quer mais tanto assim. Não digo que é medo, e nem é mesmo. Porque eu sou forte, não tenho medo dessas bobagens de coração, aprendi nessa vida e sei que o amor é balela. Eu não digo que é medo, é só precaução. Tô me prevenindo, sabe? Tinha esquecido como era essa coisa de se entregar, de chorar fora de hora, de ficar insegura por nada. Mas passa, não é medo, não mesmo. É só um estranhamento de tanta necessidade, de tanta dependência: como era antes de você aparecer? Parece que tem mil anos e eu esqueci tudo. Esqueci como é ser só. Esqueci como é dormir sem boa noite. Antes eu achava que não precisava de boa noite e aí você apareceu com bom dia, café na cama, cafuné e bons sonhos. E eu desaprendi a não ter. Mas juro, não é medo. Eu sou forte, não sou dessas românticas que acreditam no pra sempre, no eterno, em planos, em futuro, eu não. Sou pé no chão, sabe? Não sofro. Sei que tudo acaba um dia, é tudo cíclico. A paixão, já me disseram, dura só sete meses, que nem doença que a gente toma remédio e passa. Por isso que eu digo, não é medo. Não tô esperando nada de ninguém. Sei me virar sozinha, não acredita? É que você apareceu e eu esqueci, mas já já me lembro, já já essa angústia vai embora, você vai ver. Eu não sou de chorar, de esperar, de acreditar, nada disso.

Não é bem medo, sabe, é só um susto, vai passar. Mas, por via das dúvidas, você me protege?

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O amor precisa de sorte

Tô precisando de um amor recíproco. Tô precisando de sorte. De querer as pessoas certas, de ficar com a parte boa da paixão, de ser feliz e não só intensa. Tô precisando voltar a acreditar nas pessoas. Tô precisando me entregar sem medo, precisando amar mais e brigar menos, tô precisando entender. Entender as pessoas às vezes dá certo, sabia? Tô precisando ser entendida também, precisando de cafuné, de olho no olho, de massagem no pé. Tô precisando de alguém que saiba que eu espirro sempre duas vezes seguidas, e não uma, nem três. Que saiba o tamanho do meu pé, a minha loja preferida, o nome das minhas gatas. Tô precisando de alguém que saiba meu telefone de cabeça, sabe?

Tô precisando de um amor recíproco. De alguém que diga que vá me ligar e eu tenha certeza, absoluta, de que sim, ele vai ligar. Tô precisando de alguém que saiba o que eu quero dizer, mesmo sem eu dizer, de alguém que escute minha música preferida e lembre de mim, de alguém que me ligue pra contar como foi o dia. Tô precisando, sabe? De alguém que me leve comida na cama, que cuide de mim quando a bebedeira bater forte, que me faça rir. Porque no fundo, lá no fundo, o amor recíproco é só isso, alguém que te faça rir. É só isso que eu preciso, mais nada.

Pode ser você?

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tempo, tempo, tempo, tempo

Olhou, olhou, olhou. Já tinha olhado tantas vezes naqueles 40 minutos e mesmo assim não se convenceu. Testou o sinal, testou a altura da campainha. Ligou pra amiga, conversaram sobre amenidades, acendeu um cigarro. Olhou, olhou, olhou. Mais quarenta minutos, o mesmo visor preto, sem sinal de resposta. A luz acende, mensagem da operadora. O telefone toca, ligação do chefe. Olhou, olhou, olhou. A amiga que tinha falado de amenidades resolve ligar de novo. O coração se apressa. À toa.

Mais 40 minutos e ela quase desiste. Não pode ser em tão pouco tempo que a gente surta. Outro cigarro, água, café, esquenta o pão. Olhou o relógio, olhou o visor, outra vez. Olhou, olhou, olhou. Silêncio maldito de dentro, que não passa, que não anda. Dá até pra escutar o coração quase.

E aí, então, ele toca. Ela atende, fingindo pouca pressa. É a voz certa. O sorriso deixa de caber na cara. Valeu cada minuto da espera.