segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A gente era obrigado a ser feliz

O João nasceu esperto, sabe olhar que só gente esperta tem, aquele sorriso dos espertos estampado no rosto? João nasceu assim. Ele é moreno igual a você, mas com meu cabelo cacheado, uns cachos lindos naquela carinha de esperto. Falou cedo, correu cedo, cedo virou o espertinho da turma, desejado pelas meninas, não por ser lindo, embora seja, mas por ser feliz. João nasceu esperto e vivia feliz por causa disso.

Já a Maria nasceu séria. Não porque quisesse, mas porque era. Era séria mesmo sorrindo, com aquele meus olhos verdes fracos por trás do sorriso. Ela puxou os meus olhos, mas tem teu corpo, anda igualzinho a você, daquele teu jeito de andar que eu não sei explicar, sabe? Mas a Maria não tem teu brilho, é meio apagada, e eu percebo que ela te olha admirada quando você tá ali no meio da roda e todo mundo te ouve. Ela queria ser como você, mas ela puxou a mim e nasceu séria. Não é que seja triste, é tão feliz quanto o João e até tão esperta quanto ele, mas esconde isso tudo nos meus olhos verdes fracos.

E o que vai ser deles agora que você quer ir embora? E todos os nossos planos de morar perto da praia, numa casa sem paredes, todo mundo misturado com o nosso cachorrinho? Como vão ficar nossos filhos, como vão ficar João e Maria sem você?

Não vão ser, nem vão existir. Esquece isso de nossos filhos. Eu não te amo mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário